A geladeira, antes repleta de cerveja e das mais deliciosas iguarias, estava vazia. Do freezer retirou as forminhas ainda com gelo. Despejou os cubos na pia, que outrora estivera suja de bloody mary, de lasanhas, yakisobas e salsichas. Lembrou-se um pouco do enorme perú, mas também do fedor de cigarro com limão das manhãs de domingo.
Saiu da cozinha e avistou o quarto. As memórias de uma vida não passaram em flash como em filmes. Sua mente foi sã o suficiente para poupá-lo disso. No entanto, perturbou-se com a nova decoração, uma mistura de móveis seus com velharias, transformando o quarto em uma sala de tv.
Passando pelo banheiro olhou o espelho que tantos rostos refletira. Refletiu por um instante na semelhança entre o seu refletir e o do espelho. Achou graça e animou-se um pouco. Entrou por uma última vez no outro quarto, de onde se podia ver um grande pinheiro por uma ampla janela. Estava cheio de novas coisas, mas tão, tão vazio.
A parede amarela do corredor não projetou sua cor no teto, como acontecera em tantas noites mágicas.
Saiu e fechou a porta.