segunda-feira, outubro 16, 2006

Em Busca de um Manifesto pela Complexidade

Existem muitas coisas nesse mundo que me decepcionam profundamente. Existem também coisas que simplesmente me fazem sentir impotente diante dos efeitos maléficos de se viver em nossa sociedade. Uma dessas coisas é o simples fato de que eu sei quem é um ser chamado Paris Hilton. Esse fato, o simples fato de que eu sei que ela existe é a evidência suprema da aberracão em que vivemos. Eu me pego muitas vezes desgostoso por saber que minha mente é tão impotente perante aos meios de comunicacão.

Obviamente que eu poderia escolher ser um ermitão, viver numa montanha, já que praia deserta hoje é difícil encontrar. Mas não é esse o ponto. Eu não quero me isolar. Eu quero que a informacão que chegue a mim seja relevante. Que seja complexa. Chega de comida mastigada, chega de entender o final do filme, chega de ter mais informacão disponível sobre o fim de semana ou casamento de algum idiota do que sobre ciência, arte ou filosofia. Chega de ter como meta o fim, ao invés de ter o caminho como meta.

Já ouvi de alguns amigos sobre música: "nao adianta, quando você acha que eles chegaram no fundo do poco, no ano que vem eles lancam algo pior". Porquê? E não estou aqui falando de música, eu estou falando de tudo. Porquê eles lancam algo pior? O que é ser pior?

Em geral, pior é falar algo mais grotesco, fazer algo mais "baixo-nível", um ator de meia-tijela que tem um "projeto". Em geral, é fazer algo mais simples e vendável. "Nossa, a música dele é tão gostosa, tão fácil de ouvir". "Ah! Gosto tanto deste escritor, você lê o livro dele e nem parece que está lendo, nem percebeu, chegou ao fim".

Pois é, chegou ao fim. E você não se lembra de nada, pois não tinha nada. Nem parece um livro! A música acabou e você não percebe, pois vem outra. Igual. Ou tão fácil quanto. Tão estúpida quanto.

Por isso o que busco é um manifesto. Busco um manifesto nos moldes de um dogma, mas que não restrinja, expanda. Mas ao expandir, que torne tudo complexo. Que torne tudo dolorido. E que todos gostem dessa dor, pois é ela que ensina. É ela que por fim mantém em mim a vontade de estar aqui.

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