domingo, outubro 15, 2006

O beijo

Levantou-se e era tudo igual. O café quente descia a garganta junto ao pão com manteiga. No jornal, as mesmas noticias estúpidas do dia anterior. Um beijo. Bom dia. No caminho ao trabalho olhava as árvores, avermelhadas nesta época do ano. O fim de semana teria tempo bom, um chá à beira do mar, ao sol, protegidos do vento pela grande janela de vidro, lenha queimando à lareira. As folhas vermelhas misturavam-se às amarelas ainda sentindo um respingo de vida em suas veias. Sentia ainda um respingo de vida em suas veias. E não sabia avaliar o resultado desse sentimento. Queria viver, dizia. Não queria, sabia. As árvores afunilavam-se num corredor interminável e o vento levantava as folhas em rodamoinhos, prontamente destruídos pela massa poderosa de seu carro. Na curva, uma árvore atingia seu explendor de beleza, elevando-se àcima das outras, distinguindo-se como uma rainha. Sentia o vento frio entrando pela fresta da janela e, levando o ar ao fundo dos pulmões, regava aos sentidos alguma esperanca. Os olhos fixos na rainha, não entendia como seria ser uma rainha. Näo soube em todo o tempo, o que seria ser um ser. O corredor de árvores sorria torto, um sorriso quente e aconchegante, avermelhado e amarelado pelas folhas numa manhã azul. Então compreendeu por um instante. Os músculos relaxaram enquanto a boca serena enlacava-se em um nobre beijo.

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